(…) Na província de Tongzhou da China, arrisquei-me no matadouro de uma pequena comunidade. Haviam cães, gatos, coelhos e medo que transpiravam das paredes com tanta intensidade, que o próprio medo parecia ter medo de enfrentar a morte e morrer sozinho.
Quando minha alma perfurou esse buraco escuro, meu coração sangrou através dos meus olhos, se derrubando no chão abaixo de mim. Não consigo sequer colocar em palavras o que vi. Eu nem consigo usar a tinta na minha caneta para descrever criaturas vivas acorrentadas a mesas com seus órgãos expostos.
Gritando. Alguns sem pés.
Alguns sem olhos.
Ainda vivos… e gritando.
Perguntei, por que não matá-los primeiro? Ele disse que é a cultura, e que eles estão fazendo isso da mesma forma há anos.
A escravidão costumava ser cultura. Mas quando o coração humano cresceu em tamanho e grandeza, a história tornou-se passado. A história tornou-se uma ponte que nos ensinou não o que fazer, mas como fazer melhor.
Eu disse a esse homem, a maior coisa do mundo não se encontra na morte. Encontra-se na respiração da vida para os outros. Só há sangue na morte. Somente destruição. Sem amor. Sem esperança.
Seu rosto era um olhar vazio. Meu presente, um poema para os olhos que não podiam compreender, ou talvez não se importasse.
Resgatei todos os cães que pude, os fortes o suficiente para sobreviver ao transporte. Salvei três gatos e libertei um par de coelhos pelo rio. Os torturados que morreram lá, mordi meus lábios e derramei lágrimas com esperança de que nas trevas – eles soubessem que não estavam sozinhos.
O maior presente na vida não é a morte – é a respiração da vida naqueles que não podem respirar por si mesmos. Em todo o meu desejo de que quem eu sou fosse mais forte. O maior presente da vida é dar. (…)